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Consumidores cobram propósito e transparência para escolher as marcas que farão parte de sua vida

Consumidores cobram propósito e transparência para escolher as marcas que farão parte de sua vida 03 SETEMBRO

“Moda, conforto, funcionalidade: o que o consumidor quer de verdade?” foi o tema do Happy Hour com Tecnologia do IBTeC no dia 2 de setembro. A consultora de negócios e moda Andressa Rando Favorito e a consultora estratégica de moda, branding e varejo Claudia Narciso, foram as debatedoras. O coordenador do Laboratório de Ensaios em Biomecânica do IBTeC, Eduardo Wüst, atuou como mediador.

Eduardo Wüst abriu o debate falando sobre as atividades do Instituto na área de biomecânica para apoiar a indústria calçadista e contribuir com o conforto e bem-estar do consumidor final. O IBTeC mantém uma equipe altamente preparada para o desenvolvimento de pesquisas para agregar valor aos calçados a partir de tecnologias de conforto e de performance. A mesma equipe trabalha também para certificar produtos quanto aos componentes de conforto e de performance.

A primeira questão feita pelo mediador foi sobre como atender às expectativas de diferentes gerações quando o assunto é moda e conforto. Ambas salientaram que hoje não se faz mais a relação de perfil de consumo com idades das pessoas.

De acordo com Andressa Favorito, há algum tempo já que a tendência é classificar as pessoas não por idade, e sim pelo estilo de vida que elas levam. Hoje temos terceira idade com comportamentos extremamente joviais, ativas no trabalho e em viagens. Ao mesmo tempo, temos públicos mais jovens, na faixa dos 20 a 30 anos, com comportamentos que seriam de pessoas mais velhas.

Em compensação, há uma geração que está trazendo as tendências, com consciência do que está acontecendo no mundo inteiro, em função das conexões de comunicação. O consumo hoje está muito ligado ao propósito. Os novos consumidores buscam marcas que estejam engajadas com alguma causa e principalmente com a sustentabilidade como um todo, não apenas na questão ambiental, mas também na questão social.

Andressa chamou a atenção para o fato de que as novas gerações estão influenciando as gerações anteriores, trazendo à tona temas sobre os quais antes não se falava.

Cláudia Narciso respondeu à primeira questão colocada pelo mediador afirmando que temos uma geração pós-demográfica, que são os millenials - eles influenciam as gerações do passado, promovendo uma inversão de fatores. Mas o mais interessante, na opinião da consultora de moda, é que “hoje, todos nós podemos ser millenials, independentemente da nossa idade”. Salientou ainda que todas as gerações estão cada vez mais digitalizadas. Na relação com o consumo, Claudia entende que as pessoas com mais de 50 anos ainda precisam de um contato com o vendedor e com a loja física, mas o momento é de grandes mudanças de comportamento; um momento emblemático na moda e no varejo.

A pandemia acelerou mudanças e necessidades para o varejo, acredita Andressa. Hoje a gente vê que os donos do negócio estão envolvidos com o consumidor, no contato direto. São negócios menos engessados, que conseguem fazer mudanças mais rapidamente.

Sobre o comportamento dos consumidores, Andressa Favorito afirmou que as pessoas estão buscando conexão com o propósito das marcas. O que se pode ver no cotidiano das empresas, segundo a consultora, é que com a pandemia, os pequenos foram muito rápidos em fazer a migração para plataformas de contato direto com os consumidores. Enfatizou que o consumidor vai se aproximar de marcas ou lojas se ele tiver a solução que ele precisa no menor tempo possível. O tempo das pessoas é considerado um dos valores mais importantes da economia moderna. Andressa entende que hoje é mais difícil ter o tempo das pessoas do que o seu dinheiro.

Cláudia lembrou que a indústria da moda é uma das mais velozes do planeta, porque é um segmento que tem a capacidade da adoção de novos comportamentos muito rapidamente, o que foi muito importante neste momento. Falou sobre as roupas para home office e as pantufas, que estiveram entre as estrelas do consumo no período da pandemia. Sobre a relação com os consumidores, a consultora afirma que sustentabilidade é um atributo que ganhou muita importância neste momento, além da transparência com o consumidor.

Questionadas pelo moderador sobre as dificuldades que as marcas têm para fazer com que as informações sobre seus investimentos em tecnologias que agregam valor aos produtos, Claudia Narciso lembrou a importância de ouvir os consumidores e fazer a leitura dos dados, a escuta ativa, o que é fundamental para o sucesso no atendimento de suas expectativas. Para isto, temos ferramentas fortes, como as redes sociais, que trazem engajamento e diálogo e cria a oportunidade de escutar e entender o que ele quer.

Andressa afirmou que hoje a base do seu trabalho com a escola Moda de Sucesso é leitura de dados. Na prática, temos muitas lacunas, na maioria dos negócios, quando se fala em uso de dados. Sobre a forma de comunicação com o consumidor final, ela lembrou que é preciso saber como usar de forma correta as redes sociais. Não dá para fazer panfletagem digital. As redes sociais precisam ser vistas como um lugar de conversar com o consumidor, e não vender. As redes sociais exigem uma postura de passar para o consumidor o que ele quer receber.

Chamando a atenção para um comportamento do consumidor menos focado em preço e mais em valor agregado, Eduardo Wüst questionou as debatedoras sobre a necessidade de que as marcas invistam em diferenciais de conforto e qualidade.

Cláudia Narciso afirma que houve uma redução da compra por impulso. A experiência de compra tem um conteúdo muito mais profundo hoje. O consumidor quer saber o que está por trás daquele produto e daquela marca, qual o engajamento, o envolvimento, a experiência que a marca está trazendo, independentemente do seu tamanho no mercado. O consumidor exige esta transparência na cadeia toda.

Já Andressa Favorito entende que a sustentabilidade é um tema que está crescendo não tanto pela nossa nobreza de espírito, mas muito mais pela necessidade. As pessoas não dispõem mais de tempo para sair em busca de novos produtos que vão virar lixo. Elas querem produtos mais duráveis, que vão durar mais, e não vão virar lixo na natureza. E sugere que além de falar que sua marca tem propósito, é preciso que as indústrias ouçam o consumidor, falando sobre as melhorias que precisam ser feitas.

Cláudia Narciso arrematou que marcas que não fazem entrega não crescem. O produto conta a história da marca. Este é um compromisso que pequenos, médios e grandes precisam ter para com o consumidor. É preciso escutar o consumidor - o mais importante é ir para o ponto de venda e ouvir o que o consumidor tem para dizer, afirmou.

Sobre o desenvolvimento de tecnologias, Andressa afirmou que a indústria calçadista é muito diferente da de vestuário no posicionamento no mercado internacional.  Claudia falou de conhecimento técnico, capacidade produtiva, qualidade e produtos autorais. E mencionou o exemplo dos calçadistas italianos como referência, porque eles têm toda uma tradição, e um produto que sempre nos inspirou e nos fez evoluir muito, não apenas o Brasil, mas o mundo inteiro.

Andressa referendou a colocação de Claudia, lembrando que a indústria de calçados da Itália é um case de inspiração na reação à concorrência do mercado asiático. Os calçadistas italianos foram gravemente impactados quando os asiáticos entraram no mercado europeu com preços muito baixos e com grandes investimentos no produto. A organização do setor italiano para ganhar força é um exemplo do que podemos fazer no Brasil, para que a gente não perca o grande privilégio que temos no Hemisfério Sul, de ter conhecimento técnico e tecnologias. Os calçadistas da Itália em vez de se ver como concorrentes, se uniram para se diferenciar, e recuperar espaço nos mercados. Citou também exemplos de Portugal e Espanha, que passaram por processo muito similar, e se uniram para recuperar protagonismo no mercado internacional. E salientou que não tem como competir e chegar a preços que competidores que ganham muitos incentivos de seus governos. A forma de garantir espaços é apostar em design e tecnologias e no trabalho em conjunto, com o compartilhamento de experiências. Trabalhar em conjunto para ser um setor fortalecido no país.

Sobre a capacidade da indústria calçadista de atender o sonho do consumidor de usar moda com conforto, Claudia respondeu que isto já é uma realidade. Hoje o consumidor não aceita moda sem estar atrelada ao conforto. Se o consumidor vê valor no produto, ele paga. As pessoas querem produtos que atendam suas necessidades. Hoje, com a pandemia, uma das novas necessidades é tirar o calçado antes de entrar em casa. Então, precisa ser um sapato confortável e fácil de calça, salienta Andressa.

Já Cláudia afirmou que quando o produto não tem conforto, gera uma ruptura com o consumidor. Falou de transparência no relacionamento com o cliente, que deve ser comunicado sobre tudo o que é feito. A humanidade das marcas é uma tendência que está permeando todos os setores.

Nas considerações finais, Andressa Rando Favorito afirmou que 2020 acelerou algo que estava incipiente, que é a consciência do consumidor em relação ao consumo. O que nos obrigou a sair da zona de conforto, mas é assim que as transformações acontecem, e esta revolução precisava acontecer realmente. Adaptação à mudança é o mantra para pessoas e empresas.

Cláudia Narciso finalizou sua participação no debate afirmando que nunca vimos um cenário tão desafiador, para todas as classes, e para todos os empresários, dentro do nosso segmento. O lado bom foi a tão sonhada transformação digital, que aconteceu de verdade em toda as gerações. Todas as marcas, mesmos as pequenas, tiveram que evoluir e se adaptar.

O próximo Happy Hour com Tecnologia está agendado para o dia 18 de setembro, às 18h, sempre pelos canais digitais oficiais do IBTeC - Facebook e Youtube. “Novos materiais, tecnologia e produtos - qual a importância para o futuro do calçado brasileiro” será o tema.

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