O presidente executivo do IBTeC, Paulo Griebeler, abriu o Happy Hour com Tecnologia do dia 7 de outubro, data em que a instituição comemorava 49 anos, falando da importância de estar reunindo em uma data tão especial dois ícones da área empresarial, o presidente do conselho de administração da Tramontina, Clovis Tramontina, e o presidente do conselho consultivo da Calçados Bibi, Marlin Kohlrausch. O presidente do conselho deliberativo do IBTeC, Cláudio Chies, falou na sequência, agradecendo “a todos os colaboradores, fornecedores, clientes e associados. Não podemos esquecer todas as pessoas que ao longo destes 49 anos passaram pelo IBTeC, contribuindo para que chegássemos onde estamos hoje”. Lembrou da origem do Instituto, criado por “pessoas lideradas pelo Cláudio Strassburger, que há 49 anos sentiram a necessidade de ter alguém para ajudá-los a fazer um calçado que o mercado externo necessitava. Graças a este movimento, hoje o Brasil é reconhecido, mundialmente, pela qualidade de seus calçados e o IBTeC tem um papel muito importante neste resultado”.
Sobre a Tramontina - Clovis Tramontina abriu sua participação contando um pouco da história da empresa, que foi criada em 1911 por Valentin e Elisa Tramontina, seus avós, que iniciaram com uma ferraria. Em 1939 o avô morreu, e a avó assumiu a empresa. Em 1949 o pai de Clovis Tramontina, Ivo Tramontina, assumiu, e a avó convidou Rui Scomazzon para trabalhar na empresa. Com o tempo, Rui foi convidado a fazer uma sociedade. Ivo Tramontina e Rui Scomazzon ficaram juntos por quase 70 anos. Os dois lideraram a empresa até 1991, quando Clovis Tramontina e Eduardo Scomazzon assumiram.
Clovis afirma que o que seu pai e o sócio tinham em comum era que gostavam de pessoas, “e este é um dos alicerces importantes da nossa empresa - gostar das pessoas e valorizar a prata da casa, que faz a diferença”. De acordo com o palestrante “é comum encontrar na empresa três gerações de uma mesma família como colaboradores”.
Sobre o conceito de empresa familiar, afirmou: “Eu acredito muito em empresa familiar, e não vejo nenhum problema, porque não há nada melhor do que conversar com tua família, onde tu conheces as forças e as fraquezas”.
Sobre a Bibi - Marlin Kohrausch apresentou a empresa, fundada em 25 de abril de 1949, pelo sogro, Albino Eloy Schweitzer. “Ele era apaixonado por calçados”. Começou com oito funcionários, trabalhou fortemente convidando pessoas para se associar, e ficou com duas famílias, a família Schweitzer e a família Silva. A grande visão é a construção de uma marca de desejo, e agora evoluindo para “vamos pintar o mundo de laranja”. Entre os valores da empresa, empatia com o cliente é um dos mais importantes. Trabalhando fortemente em inovação, com o slogan “em tudo o que se faz, a gente procura inovar”. Tanto que hoje a empresa tem um “Ninho de inovação”, onde os grupos se reúnem para pensar novas soluções e novos produtos. “Fazer o bem para gerar boas lembranças” é o propósito da Bibi.
A entrada no varejo foi um grande acerto da empresa, iniciado há 14 anos. Hoje tem 16 lojas fora do Brasil e 124 lojas no Brasil, sendo 18 próprias. A empresa também montou uma indústria na Bahia (em Cruz das Almas), para produzir o composto dos solados usados nos seus produtos.
Ao longo dos anos desenvolveu mercado internacional, exportando marca e design próprios para 55 países. Hoje, a produção é de 2,2 milhões de pares por ano - calçados bem elaborados, focados em produtos de qualidade.
A Bibi está na terceira geração na condução da Calçados Bibi.
Bibi e a pandemia - Segundo Marlin, “foram momentos bastante difíceis. A medida número um tomada foi preservação de caixa.
E a mais importante decisão foi a preservação das nossas pessoas. Nós não demitimos nenhum profissional. Usamos a medida do governo federal, que a meu ver foi fundamental, para deixar o pessoal em casa no período do isolamento total, e nós complementamos os pagamentos dos nossos colaboradores”. Ainda no período da pandemia, “pagamos nossos funcionários e nossos fornecedores, rigorosamente em dia. Seguramos todos os compromissos dos nossos clientes e negociamos diretamente com eles”.
Marlin Kohrausch afirma que “a Bibi já tinha uma gerência de transformação digital, que com a pandemia recebeu mais investimentos. Também investimos em melhorias de processos e de layout, nos encaminhando para o conceito de indústria 4.0. E tudo isto nos beneficiou na retomada.
Antes da pandemia, as vendas no ambiente representavam entre 2% a 3% no nosso faturamento, e hoje representam ao redor de 14 a 15%.
Para o futuro, “tenho certeza de que este novo mundo vai ser cada vez mais digital. E um dos aspectos que precisamos pensar é no novo varejo, que vem mudando bastante e deverá continuar mudando”.
Lembrou a comunicação das novidades da marca, que hoje pode ser feita com muito menos custo e com alcance exponencialmente maior.
Sobre o futuro pós-pandemia, Marlin afirmou entender que “hoje temos uma demanda reprimida e uma desorganização geral na cadeia de fornecedores, o que está gerando inflação. Este é um problema no mundo inteiro. A gente vai encontrar um pouco de inflação nesta volta da economia. Por outro lado, percebe-se que o consumidor está com muita vontade de consumir”. Disse ainda acreditar que “vai acontecer como em 1920, após a pandemia da gripe espanhola, quando houve um longo período de crescimento. Acredito que assim que a cadeia mundial de suprimentos se organizar novamente, vamos ter um período de dez anos de crescimento.
Marlin lembrou que “há 30 anos a indústria representava em torno de 45% da economia brasileira. Hoje representa entre 12% a 15%. O agronegócio, que representava 10% hoje representa 40% e a indústria representa 15%. A indústria precisa fazer um grande trabalho para recuperar sua participação no PIB brasileiro.
A Tramontina e a pandemia - “Quando veio a pandemia, nós instalamos imediatamente um comitê de gestão de crise, com um diretor de cada uma das dez unidades. As reuniões são semanais. O objetivo principal era cuidar da saúde das pessoas, para não parar as fábricas”. Decidiram seguir todos os protocolos de higiene e distanciamento. Foi feito um trabalho de separação nas linhas de produção e nos espaços de convivência. Dos 10.000 trabalhadores, a empresa perdeu quatro colaboradores para pandemia.
Na relação com o mercado, “atuamos junto aos fornecedores, mantivemos pedidos, com pagamentos em dia. Fizemos ações agressivas de vendas, prolongando prazos, para que o negócio não parasse. Estimulamos as exportações, fazendo com que os centros de distribuição recebessem as mercadorias, para que as fábricas mantivessem a produção. Sempre seguindo todos os protocolos”.
Segundo o presidente do conselho, “neste período a Tramontina cresceu, porque as pessoas viajaram menos, ficaram em casa, e viram que precisavam fazer renovações em suas casas”.
“A digitalização se acelerou muito - o e-commerce aumentou muito, as reuniões foram mais objetivas, negócios feitos com videoconferências. E com isto a rentabilidade melhorou, porque a empresa gastou menos. O que tudo isto nos mostrou? Que para o pós-pandemia, vamos aproveitar melhor o tempo e aproveitar estas ferramentas digitais que temos à disposição. No futuro vamos fazer de uma forma muito mais ágil”.
Clovis Tramontina enfatizou que “temos que aproveitar no pós as coisas boas que a pandemia nos ensinou”. Para o futuro, “teremos anos de ouro. O Brasil é um país que tem grandes oportunidades”, sentenciou.
Sobre empresas familiares - O moderador do evento, Paulo Griebeler, trouxe números para ilustrar a conversa com os dois empresários. De acordo com levantamento feito pela Price Consultoria, 90% das empresas no Brasil possuem perfil familiar. São 7 milhões de empresas, que representam 65% do PIB nacional. As empresas familiares respondem por 75% dos empregos gerados no Brasil. Estudo de 2018 aponta que 44% das empresas familiares brasileiras não têm um plano de sucessão, e 72,4% não apresentam definições para cargos chave. Apenas 30% das empresas familiares chegam à segunda geração e somente 5% chegam à terceira geração familiar. “Por isto trouxemos este tema para este Happy Hour especial”.
Sucessão familiar na Tramotina - A primeira geração foi avô e avó, com uma ferraria. Na segunda geração, meu pai e seu Rui criaram a empresa com os valores. Deixaram coisas - respeito, transparência e a profissionalização fazem parte do legado que eles nos deixaram. Processo de sucessão - há trinta anos, quando o pai deixou a empresa, assumiu como presidente. Para isso se preparou, estudou, com duas faculdades, pós-graduação, MBA, curso no exterior.
Em 1992 Clovis Tramontina assumiu como presidente e Eduardo Scomazzon como vice-presidente. No início da pandemia, tomou a decisão de pensar na sucessão - “precisamos de ideias novas e novos conhecimentos, com uma filosofia mais digital”. A primeira decisão é de que a sucessão vai ficar nas famílias. Decidiram estabelecer prazo de revezamento a cada quatro anos - Eduardo Scomazzon como presidente e Marcos Tramontina como vice-presidente. Passados quatro anos, dois novos nomes, que serão escolhidos pelas holdings das duas famílias, com um Tramontina na presidência e um Scomazzon na vice-presidência. Já está determinado, de uma forma simples e transparente. Tudo por consenso. Não temos nenhum tipo de votação. Tudo de uma maneira muito rápida e objetiva.
Case sucessão na Bibi - Marlin iniciou afirmando que “no meu entendimento sucessão tem que fazer parte da cultura da empresa. Quando assumi a Bibi tinha 10 sócios e a sociedade não se entendia. Eu também não estava muito preparado para assumir a presidência. Foi muito difícil o processo”. Afirmou que prometeu pensar em um processo de sucessão, que deveria fazer parte da cultura da empresa. “Trabalhamos muito, com auxílio de uma consultoria, por sete anos. Eram quatro candidatos - dois de cada família. Neste período estas pessoas desenvolveram competências e se prepararam. Eu entendo que as empresas precisam preparar-se para que não morram junto com suas lideranças”. Prometeu que no dia em que completasse 60 anos, seria feita a sucessão. Cinco meses antes, passaram o bastão para a Andrea Kohlrausch. A escolha foi por consenso.
De acordo com Marlin, a Bibi vai terminar 2021 com o melhor resultado dos 70 anos da empresa.
O Happy Hour com Tecnologia tem como patrocinadores: Solvay Group / Rhodia, Zahonero, NIT/IBTeC e Revista Tecnicouro.